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NEDE - O MUNDO DA FRUTA VERMELHA

Minha vida de verdade não começou em Alcob e sim em Nazar, uma cidade bem pequenininha, onde não tinha muita gente por perto. Eu era o filho único do casamento do meu pai com minha mãe. Eu tinha mais três irmãos que eram filhos de meu pai com outras duas mulheres. Mas minha mãe nunca foi de comentar nada a respeito da vida que meu pai tivera antes de encontrar ela. Também não posso dar característica dos meus irmãos, pois eu não me lembro nenhum pouco da fisionomia deles. Lembro-me apenas de um dia ver meus pais discutirem e a minha mãe chorando no cantinho da nossa salinha. Nossa casa não era grande, mas era bonita, com móveis mais antigos que a época e valor caro. Meu pai trabalhava com contas e ainda tinha terra com muitos agricultores que trabalhavam para ele, então ele dava tudo para nós e não deixava eu passar vontade de comer uma bala que fosse, sempre que ele tinha a oportunidade ele me segurava pelos e ombros e dizia:

- Criança, você é o meu tudo! – Dizia isso com lágrimas nos olhos, e os minutos que seguiam eram apertados pelos abraços que me dava.

Mas em meio a tanto amor que meu pai sentia por nós dois, minha mãe sempre chorava nos cantos da nossa casa. Sempre que meu pai viajava, ela chorava. Mas nesse dia ela chorou com meu pai perto, discutiram, não me lembro de ter ouvido o motivo. Ela gritava e apontava para a janela, com as mãos na cabeça, tão preocupada, parecia decepcionada. Meu pai tentava acalmá-la, tentava segurar nos braços dela, mas nem chegava a tocá-la. Quando ele tentou falar algo, ela virou as costas, e ele saiu.    

   Nesse intervalo, eu olhei para janela, era muito pequeno então ergui os meus pezinhos, para ver lá fora, para onde minha mãe apontava, tive que passar a mão na janela para limpar, pois era frio e o vidro embaçava, passei minha mãozinha,  e vi três homens. Imaginei que eram meus irmãos. Não consegui, mesmo forçando as vistas, ver a fisionomia deles, mas eram grandes e fortes, pareciam estar esperando meu pai.

Aquela noite foi muito triste, pois meu pai saiu e nem de mim havia se despedido. Vi meu pai lá fora indo embora com os rapazes. Quando me virei para minha mãe, e fui até o cantinho onde ela estava, ela me abraçou e só chorou. Eu não me lembro ao certo como adormecemos naquela noite, só sei que bem cedo, o meu pai já estava em casa,  e minha mãe estava mais feliz, estavam os dois sentados na sala próximos a janela que dava para a rua. Estávamos todos tranquilos e tudo estava calmo até a hora que  papai se levantou para ver a rua, e antes de chegar perto da janela, eu vi quando ele inclinou a cabeça e viu o sinal da minha mão  na janela. Naquele momento senti o que mesmo que ele sentiu, parecia que o mundo estava caindo.

Ele se achegou mais perto da janela como que para confirmar que era sinal da minha mão, e em um salto de desespero fez as nossas malas. Aquela foi uma manhã bem movimentada.

- Mas, e todos os nossos móveis? Perguntou mamãe, colocando comida para mim em uma bolsa pequena.

- Querida, coloque apenas o que couber no carro. Fique tranquila que depois darei  um jeito na mudança – Papai tinha um carro que mais parecia uma carruagem, apenas  pessoas muito ricas podiam ter algo daquele tipo.

Minha mãe estava muito feliz em ir embora, e meu pai com muita pressa. Ele me pegou no colo e também as malas que arrumaram, colocou no carro e partimos para outra cidade. Ficamos muitos dias na estrada, mas todas estradas movimentadas, meu pai não gostava de viajar sozinho, ele sempre ia com um amigo. Nessa viagem fomos apenas nós três, não existia nenhum amigo que sairia as pressas para viajar conosco, ainda mais para um destino desconhecid0, pensava eu.

         - É aqui meu amor! Papai disse para mamãe abrindo, a porta do carro para ela.

         - Mas, como assim? Mal entramos na cidade e você já tem casa preparada para nós?

Papai já havia morado naquela casa, e era do papai, assim como muitas outras propriedades que ele possuía e que a mamãe não conhecia.

 Mamãe era linda, mas não era tão jovem quanto meu pai, e nem tão disposta também. Muitas vezes eu entrava no quarto dela e ela estava passando muitas coisas no rosto, e dizia para mim que era para bater na porta, pois não era para vê-la feia. Ela dizia isso com muito carinho, nunca foi bruta nas palavras.

- Meu amor, espera a mamãe lá fora! Deixe a mamãe ficar bonita primeiro, pode ser?!

E eu saia e a esperava.

         A cidade era boa para  morar. Fui crescendo e vendo cada dia mais meu pai amando a minha mãe, e cada dia mais ela se acabava, parecia estar doente! Meu coração chorava de vê-la daquele jeito. Mas para meu pai e eu, ela ainda era mulher mais linda do mundo!

         Nessa época, na minha época de criança, as moças usavam roupas compridas com mangas pra baixo um pouco do ombro, meias apropriadas e ainda não (...)

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